quinta-feira, 26 de março de 2009

Subjectum Juris.

Eu não estava bem, sublinho. Continuava a ser assaltada por uma tristeza mortificante, que me obrigava a fechar os estores e a deitar-me no chão. Nessas horas horizontais, e só nessas horas, desenhavam-se á minha frente mil e um cenários de ressurreição, vistos á luz de um caleidoscópio, que só se esfumavam quando a porta se entreabria. Tu entravas, derramavas a tua complacência sobre mim, esfregavas-me as nódoas do vestido, levavas-me a colher á boca e findavas com uma palmadinha nas costas, um afago no cabelo, "melhor assim, não?". Eu ensaiava um sorriso, fingia 'sensibilidade e bom senso', expectando um embalo até adormecer , encolhida no teu colo. Tu esquivavas-te ao abraço, sacudias a roupa e fechavas a porta atrás de ti, sem hesitações. E era assim, nesse gesto impensado, que sentenciavas os restantes dias á mesma rotina; expectativas logradas, esperança em pó no cinzeiro. Efabulava, enquanto mordia os dedos ou raspava as unhas no soalho, mil e uma formas de auto-extinção, qual ressurreição qual quê. E, nesse campo, a imaginação tinha limites extensos. Engolia um par de meias e morria por sufocação, de lábios pintados, a constrastar com a cianose. Cobria o corpo com gasolina e ateava-lhe o fogo, fazendo jus á conotação primeva de purificador, que este tinha. Aspirava uma folha de ouro, mergulhava o secador de cabelo no meu banho de imersão, ou suspendia o corpo em ponto fixo, por meio do laço que constringe o pescoço, a esboçar um sorriso. Já as meias estavam dobradas, os fósforos á mão, o secador ligado e a corda ao dependuro, e tu fazias-te notar.
Entravas, derramavas a tua complacência sobre mim, esfregavas-me as nódoas do vestido, levavas-me a colher á boca e findavas com uma palmadinha nas costas, um afago no cabelo, "melhor assim, não?".

3 comentários:

Maria Brito disse...

Melhor assim...

gui castro felga disse...

anytime, anywhere, if you want to kill me... I'll be there ;)

(a)Mora disse...

E ela deixou-se morrer.

" (...)
I do not stir.
The frost makes a flower,
The dew makes a star,
The dead bell,
The dead bell.

Somebody's done for."

S.P. *