quarta-feira, 18 de julho de 2012

Regresso.



E como voltar a casa depois de muito tempo,
não reconhecer os vizinhos
nem saber o que é feito
da minha meninice, da poesia do amor
até que a morte.


No seu lugar, a mala de viagem que 
já não cabe no porta-bagagens
dos meus pais.
Encontradas, no fundo da despensa,
três promessas de vida
fora do prazo.


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Guião.

Perdoa-me a insistência, mas se ao menos conseguisses deslindar-me o olhar, o sorriso a meia haste e os punhos fechados sobre os joelhos, talvez pudesse tomá-lo como um sinal. Sinal de que devia tentar outra vez. Por favor, adivinha-me. Eu ajudo. Este olhar, o sorriso, os punhos fechados são a vontade calada que tenho de te abraçar.
Vá, repete comigo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Bluesforsistersomeone.

Uma nova morada.



Como é óbvio, continua a ser Novembro em Paris.

sábado, 12 de setembro de 2009

Por una cabeza.

Um tango ás voltas no gramofone
e tu, em pontas, trapezista de cordas friccionadas
a equilibrares-me nos ombros, a guiares-me as pernas
em acrobacia.
Virtuosa do pizzicato das tuas curvas
desempoeiro-te os violinos
faço-me Gardel ou Piazolla
e toco-te de cor, sem maestro ou partituras
dois corpos em vibrato.



sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A cage or the heaviest cross ever made.


morro com a mesma cara de menina travessa

como quem pede um pacto de pele post mortem

a clamar por um elogio funebre que me enalteça

a tapar os ouvidos a quem souber a verdade


ouço air ou sigur ros

com as mãos cruzadas sobre o peito

onde ainda trago esta terra fecunda

que nunca chegou a germinar


e nem sinal de flashbacks ou viagens no tempo

nem sombra de recordações em espiral

só uma luz tremeluzente a antever

uma eternidade ás escuras.


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Promessa.


Quão implacável é a injustiça da diferença?
E falo daquela que remete o arrebatador, o que te suga até ao tutano e o comedido, que não chega para aquecer os pés no Inverno, aos graus mais extremos do antagonismo.
Quão injusto é não termos a mais leve ideia do que sentenciamos com um resfolegar, um revirar de olhos, um encolher de ombros? A forma como pegamos num copo e baloiçamos o liquido acastanhado, fazendo tilintar as pedras de gelo contra o vidro molhado. O tamburilar nervoso dos dedos sobre o tampo da mesa, de forma absorta, a fazer lembrar uma melodia de Massive Attack. A condenação á morte de um coração de compasso aflitivo, por termos pestanejado antes do tempo. A injustiça é inexorável e galopante, abate-se sobre nós em jeito de castigo e pena perpétua, e faz-nos questionar as regras do Cosmos, se é que as há, e o porquê de não nos terem concedido outra sorte.
Mais injusto que vermo-nos incendiar sozinhos, é termos uma brisa da Sibéria a fulminar o lume que teima em arder em nós.
E sim. Sei de cor as afirmações populares, os provérbios e os ditados, que garantem que o que um dia nos atinge, havemos de infligir a outrém no futuro. Também sei que há-de haver quem te ame, quem te ofereca o Universo na palma da mão e tenha uma estrela que não se sabia que existia , guardada como trunfo. Mas tenho que te avisar que como eu, não vai haver ninguém. Esfrega-me a pretensão e a falta de humildade na cara, ri-te de mim, chama-me exagerada, que eu vou anuir. Tão dramático quanto verdade. Porque os Outros, esses que estão por vir, não hão-de se chamar Teresa, nem hão-de escrever para ti á janela, de cabelo á lua, na esperança que me leves como a prenda que ficou por dar. Não hão-de revolver-te as entranhas com uma paciência oriental, para que todos os dias, sem falhar um, te lembres que existi. Não hão-de cantar á tua porta, na esperança que venhas á janela lançar-me um sorriso que venha de dentro. Daqueles, que se rasgam antes que possamos desenhá-lo, para ficar bonito numa fotografia.
O tempo, as modas, as crises financeiras e a desvalorização da moeda hão-de passar, mas a promessa que te fiz é vitalícia, não há quem desfaça.
Hás-de sentir-me a presença, de quando em vez, ao virar de uma esquina que outrora foi nossa, ao cruzares um espelho e jurares que me viste a teu lado, feita assombração centenária. Quando o mar te vier visitar num dia ensolarado, no conforto de uma cadeira de verga, a fazer planos para um futuro sem a minha assinatura.
Hás-de lembrar-te de mim.

domingo, 12 de julho de 2009

Le secret.


Violaste-me um segredo, Violante.

E ao roubá-lo, levaste um fio de pérolas e o meu diário, sem que pudesse sequer rodar-lhe o trinco. Se o leres, lembra-te que as palavras de Aimé Cesaire e Eeva-Liisa Manner não são as minhas, mas que quem tas escreve sou eu.