segunda-feira, 13 de julho de 2009

Promessa.


Quão implacável é a injustiça da diferença?
E falo daquela que remete o arrebatador, o que te suga até ao tutano e o comedido, que não chega para aquecer os pés no Inverno, aos graus mais extremos do antagonismo.
Quão injusto é não termos a mais leve ideia do que sentenciamos com um resfolegar, um revirar de olhos, um encolher de ombros? A forma como pegamos num copo e baloiçamos o liquido acastanhado, fazendo tilintar as pedras de gelo contra o vidro molhado. O tamburilar nervoso dos dedos sobre o tampo da mesa, de forma absorta, a fazer lembrar uma melodia de Massive Attack. A condenação á morte de um coração de compasso aflitivo, por termos pestanejado antes do tempo. A injustiça é inexorável e galopante, abate-se sobre nós em jeito de castigo e pena perpétua, e faz-nos questionar as regras do Cosmos, se é que as há, e o porquê de não nos terem concedido outra sorte.
Mais injusto que vermo-nos incendiar sozinhos, é termos uma brisa da Sibéria a fulminar o lume que teima em arder em nós.
E sim. Sei de cor as afirmações populares, os provérbios e os ditados, que garantem que o que um dia nos atinge, havemos de infligir a outrém no futuro. Também sei que há-de haver quem te ame, quem te ofereca o Universo na palma da mão e tenha uma estrela que não se sabia que existia , guardada como trunfo. Mas tenho que te avisar que como eu, não vai haver ninguém. Esfrega-me a pretensão e a falta de humildade na cara, ri-te de mim, chama-me exagerada, que eu vou anuir. Tão dramático quanto verdade. Porque os Outros, esses que estão por vir, não hão-de se chamar Teresa, nem hão-de escrever para ti á janela, de cabelo á lua, na esperança que me leves como a prenda que ficou por dar. Não hão-de revolver-te as entranhas com uma paciência oriental, para que todos os dias, sem falhar um, te lembres que existi. Não hão-de cantar á tua porta, na esperança que venhas á janela lançar-me um sorriso que venha de dentro. Daqueles, que se rasgam antes que possamos desenhá-lo, para ficar bonito numa fotografia.
O tempo, as modas, as crises financeiras e a desvalorização da moeda hão-de passar, mas a promessa que te fiz é vitalícia, não há quem desfaça.
Hás-de sentir-me a presença, de quando em vez, ao virar de uma esquina que outrora foi nossa, ao cruzares um espelho e jurares que me viste a teu lado, feita assombração centenária. Quando o mar te vier visitar num dia ensolarado, no conforto de uma cadeira de verga, a fazer planos para um futuro sem a minha assinatura.
Hás-de lembrar-te de mim.

domingo, 12 de julho de 2009

Le secret.


Violaste-me um segredo, Violante.

E ao roubá-lo, levaste um fio de pérolas e o meu diário, sem que pudesse sequer rodar-lhe o trinco. Se o leres, lembra-te que as palavras de Aimé Cesaire e Eeva-Liisa Manner não são as minhas, mas que quem tas escreve sou eu.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Bausch.



“Uma monja com um gelado, uma santa com patins, um rosto de rainha no exílio, de fundadora de ordem religiosa, de juíza de um tribunal metafísico, que de repente nos pisca o olho.”

Fellini, sobre Pina Bausch, a quem deu um papel no seu filme "Navio".